Cuidados com o uso de paracetamol na gestação
Se o bebê for menino existe o risco de ser adulto infértil.

Muito se tem falado, neste último mês, a respeito da possível associação entre o uso de paracetamol na gestação e o surgimento de infertilidade em bebês do sexo masculino. Vamos saber o porquê.
O paracetamol é um analgésico (contra dores) e antitérmico (contra a febre) considerado seguro para uso na gravidez, porém existem estudos levantando a dúvida da sua segurança no uso indiscriminado (incontrolado).
Em 2011, foi publicada na Human Reproduction (uma importante e muito bem conceituada revista científica sobre Reprodução Humana) uma pesquisa realizada por cientistas da Dinamarca e da Finlândia, que revelou a possibilidade dos analgésicos leves, dentre eles o paracetamol, serem responsáveis por parte do aumento dos distúrbios reprodutivos masculinos nas últimas décadas. O estudo mostrou que as gestantes, mães de bebês do sexo masculino, que usaram mais de um analgésico simultaneamente (como o paracetamol e o ibuprofeno) e, principalmente, que fizeram seu uso durante o segundo trimestre da gravidez tiveram mais chance de dar à luz filhos com criptorquidia (condição em que os testículos ficam retidos na cavidade abdominal e não descem para a bolsa escrotal). A criptorquidia é o fator de risco mais bem descrito para infertilidade por má qualidade do sêmen e câncer de células germinativas testiculares. Estas conclusões foram apoiadas pelos efeitos anti-androgênicos em modelos de ratos, efeitos estes causados pelos analgésicos, levando à produção prejudicada do hormônio masculino testosterona (hormonônio produzido nos testículos) durante o período da gestação, quando os órgãos sexuais dos meninos estão se formando. O fato de um indivíduo ter a testosterona reduzida ainda no útero materno está associado a maiores riscos de infertilidade, câncer de testículos e criptorquidia, como já falamos. Estes resultados sugerem que a exposição intra-uterina a analgésicos leves é um fator de risco para o desenvolvimento de distúrbios reprodutivos masculinos.
Um outro estudo, publicado na revista científica americana Science Translational Medicine, em maio deste ano, por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, aponta que o uso prolongado do medicamento pode reduzir a produção de testosterona nos bebês do sexo masculino, afetando sua fertilidade. O estudo testou o efeito do paracetamol na produção de testosterona em camundongos enxertados com o tecido testicular humano e que receberam hormônios para simular o estado gravídico. A técnica foi usada para simular como os testículos se desenvolvem e funcionam durante a gravidez. Os cientistas deram aos camundongos uma dose diária de paracetamol, sendo que alguns receberam a quantidade do remédio em um período de 24 horas e outros durante sete dias. A seguir mediram a quantidade de testosterona produzida pelo tecido humano uma hora após a última dose do medicamento. Eles descobriram que não houve efeito sobre a produção de testosterona após 24 horas de tratamento com o paracetamol. Mas, depois de sete dias de exposição à substância, a quantidade de testosterona no tecido humano foi reduzida em 45%, quase pela metade. Portanto, o estudo mostrou que o paracetamol reduziu os níveis de testosterona em camundongos enxertados com o tecido testicular humano e que receberam hormônios para simular o estado gravídico.
Os cientistas responsáveis pelo estudo afirmam que mais pesquisas são necessárias para estabelecer o mecanismo pelo qual o paracetamol pode ter esse efeito. Por isso eles recomendam que as gestantes sigam a orientação de usar o analgésico na dose mínima eficaz e durante o menor tempo possível, sempre com orientação do médico que acompanha o pré-natal.
Não queremos criar alarde e contra-indicar o paracetamol na gestação, mas apenas alertar para o uso indiscriminado desta droga na gravidez.
- Tags do artigo: Fertilidade e Infertilidade - Gestação - Prevenção
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Sobre a autora
Dra. Anna Luiza Moraes
Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (2008). Possui residência médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Maternidade Odete Valadares - FHEMIG (2012) e em Reprodução Humana pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (2013).
Mestranda do programa de pós graduação em Saúde da Mulher com linha de pesquisa em Técnicas de Reprodução Assistida pela Universidade Federal de Minas Gerais.