O risco de uma informação mal elaborada - o Vírus Zyka
Os últimos dias do ano de 2015 estarão marcados para sempre na história do medo da população brasileira, notadamente na população da região Nordeste.

Não é de agora que o medo tem o poder de provocar enormes mudanças nos costumes e na geopolítica de uma região. O emissário do medo, voluntariamente ou involuntariamente, o dissemina com uma velocidade diretamente proporcional ao veículo utilizado.
Costumes e comportamentos são radicalmente modificados em função do medo que os assola.
Uma população com medo se desconfigura e desorganiza.
A primeira informação veiculada em todas as redes sociais estava errada: o cut off ou limite do perímetro craniano não era 33 e sim 32 cm. Imaginem quantas pessoas sofreram e quantos prematuros, bebes com crescimento intrauterino retardado que depois se corrige após o nascimento, que tem perímetros menores não provocaram pânico nas famílias que mediram nas suas casas.
Nesse mesmo período, final de 2015, também assistimos migrações populacionais em fuga desorganizada da guerra e do terror.
Ao mesmo tempo países civilizados e democráticos convivem com ameaça constante de ataques terroristas mas, também precisam dos imigrantes jovens para garantir a reprodução humana que está com taxas negativas. Ou seja, no geral, morrem mais europeus do que nascem.
O medo não é só uma consequência mas, também, uma arma poderosa.
Com esse preâmbulo eu quero iniciar um protesto contra a maneira de veicular a notícia de que o vírus Zyka é o causador da microcefalia.
Para se veicular tal afirmação, mediante ao enorme impacto e consequente medo, era necessária uma certeza absoluta de que a informação é absolutamente correta.
Essa certeza existe?Ainda não.
Existem fortes indícios para suspeitar que o vírus Zyka esteja associado à microcefalia. Mas não sabemos se é ele sozinho ou uma associação de fatores individuais ou mesmo outras doenças que contribuem para a microcefalia.
"Microcefalia, circunferência do crânio menor do que 32 cm, é uma condição médica que se caracteriza por um crânio menor do que o tamanho médio, geralmente por causa de uma falha no desenvolvimento do cérebro. O problema pode estar associado a síndromes genéticas ou a outros fatores como abuso de álcool e drogas durante a gravidez ou a infecção da gestante por rubéola, catapora ou citomegalovírus."
Agora vamos comentar o pior.
Sem ainda sabermos, pelo menos não está amplamente publicado, em quais condições de habitação, nutrição, hábitos, higiene, cuidados com a saúde, escolaridade, renda familiar, uso de drogas lícitas e ilícitas, além de vários outros fatores que podem influenciar direta ou indiretamente a microcefalia com ou sem o vírus Zyka, jogam uma notícia de que "a população deve evitar engravidar".
Automaticamente vem a pergunta:
- "Por quanto tempo?"
Aí vêm alguns com respostas empíricas e dizem:
-"8 meses!"
Faltou o "pelo menos" nos "8 meses".
Na verdade, faltou dizer a verdade que a Zyka foi descoberta há décadas. Foi identificado em macacos em 1947, na África, e em 1954 em humanos, também na África-Uganda. Sendo uma epidemia incontrolável, porque a Dengue não foi controlada e o Aedes Aegyptis tampouco, então o conselho que foi dado deveria ser: Até quem sabe?
Dar conselhos sem as soluções é uma tragédia.
Imaginem agora as mulheres com mais de 30 anos, onde a taxa de fertilidade espontânea diminui progressivamente e que não terão condições de fazer fertilização INVITRO mais tarde, porque a endometriose e a diminuição da reserva de óvulos, maiores causas de infertilidade à partir dessa idade se intensificarão.
A solução é congelar óvulos, uma técnica só acessível às classes com poder aquisitivo.E as que não podem?
Quer pior?
O Brasil vem progressivamente diminuindo a sua taxa de natalidade (TN - Número de nascimentos por cada mil habitantes) e taxa de fecundidade (TF - Número de filhos por mulher na idade fértil).
Entre 2000 e 2014 no Brasil a TN caiu de cerca de 22 para 13 nascimentos por cada 1000 habitantes. Estamos nos aproximando do nível crítico que é abaixo de dez. A Alemanha e o Japão lideram as menores taxas 8,2 e 8,4. Isso projeta uma perspectiva de deficiência econômica do país no cenário global. Porque o número da população ativa será menor e o número de idosos muito superior. A consequência, a longo prazo, pode ser a extinção de uma população caso não ocorram nascimentos e imigrações.
Então vamos lá:
Quando dizemos que um país está com crescimento populacional é porque a diminuição entre os nascimentos e falecimentos é positiva. O contrário será o encolhimento com as consequências desastrosas como vemos em vários países, principalmente na Europa.
Quando dizem que as mulheres brasileiras não devem engravidar por causa do vírus Zyka e não sabe-se até quando, está-se dizendo que a população encolherá nos próximos anos por dois motivos: medo e porque não haverá chance e nem tempo para mulheres com idade avançada que ficarão naturalmente inférteis devido à idade.
Resolvi fazer um cálculo por conta própria.
Estimamos que a população brasileira terá mais 2,5 milhões de habitantes (HBT) até o final de 2015. No momento que estou escrevendo esse texto, o número de nascimentos de bebês com microcefalia (MCF) está em torno de 1800. Vamos ser pessimistas e estimar chegar a 2.500 casos. Estaremos falando em 2.500 MC por 2.500.000 HBT nascidos. Isso quer dizer que a chance de nascimento de um filho com microcefalia é 0,1% e de um filho normal é 99,9%.
Só para comparar. A chance média de se ter um filho com Síndrome de Down é de 1 para 600 partos. Ou seja 0,16% de um filho com Síndrome de Down e 99,84% de um filho normal.
Só que a Síndrome de Down ainda não podemos controlar. Mas o vírus Zyka sim.
O conselho correto é a prevenção, os cuidados e a eficiência das políticas públicas que foram negligentes desde a descoberta do Brasil, onde preferiu-se não educar e não promover o bem público.
Mulheres com mais de 30 anos tem as duas opções: combater e prevenir ou congelar óvulos.
Mas é preciso dizer que o congelamento de óvulos dá uma chance média de 70% de nascimento e 30% de não engravidar.
- Tags do artigo: Ovulação - Prevenção
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Sobre o Autor
Dr. Marco Cavalcanti
Criador do TESTEDEFERTILIDADE.COM.BR E FERTILITYCHECKONLINE.COM. Especialista em Ginecologia, Obstetrícia e formado em Medicina Reprodutiva e Cirurgia da Reconstrução Pélvica pelo South Florida Institute for Reproductive Medicine nos Estados Unidos. Reproduziu num computador o raciocínio de um especialista, através de um software de Inteligência Artificial em Reprodução Humana e Endometriose. Autor do livro "Quero meu Bebê", é o responsável pela geração e nascimento dos primeiros bebês brasileiros da técnica de reprodução assistida (GIFT por Histeroscopia Modificado). Duas das suas produções científicas foram selecionadas para concorrer ao maior prêmio da Reprodução Humana no Brasil: Prêmio Campos da Paz.